Aos grandes desafios do futuro próximo, postos:
- Pela demografia, com aumento da população mundial e da longevidade;
- Pela ecologia, com os riscos de esgotamento das matérias-primas de longo período de renovação e da disrupção do sistema.
As respostas terão de passar pela economia política, modificando os modos de vida e de convivência e a utilização dos recursos disponíveis, e pela tecnologia, como forma de viabilização das soluções económico-políticas.
Neste quadro de inevitabilidade desenham-se os problemas da relação entre a política e a técnico-ciência:
- A invocação da neutralidade axiológica da ciência e dos dispositivos técnicos como encobrimento do problema da dominação da natureza e dos homens e da apreciação inicial das questões éticas e de sustentabilidade.
- A crença de que as primeiras soluções técnicas encontradas para os problemas imediatos dispensam a discussão e aceitação públicas das consequências e o confronto com alternativas, confiando que os eventuais efeitos perversos se anularão por ulteriores paliativos, numa auto-regulação através do deus mercado.
- No outro extremo apresenta-se a sobranceria duma irreflectida “política” que se permite ignorar ou desvalorizar infantilmente quer os dados caracterizadores da situação e projectivos da evolução, quer os recursos técnicos disponíveis para implementação das soluções desejadas. É curioso que esta atitude desvele, finalmente, uma crença desmesurada no poder técnico que pretende desvalorizar.
O caminho, longo, difícil e estreito a percorrer exige uma discussão permanente entre os agentes políticos e os decisores técnicos acerca de como queremos viver e não só do que discussão seja profícua é indispensável que os técnicos adquiram uma cultura e uma prática política sólidas e que os políticos incorporem a consideração reflectida dos recursos científicos e técnicos, desde os instantes iniciais, na concepção dos seus programas e projectos.
«A discussão entre os agentes políticos e os cientistas e técnicos move-se num círculo: Só na medida em que, apoiados no conhecimento do poder técnico, orientamos a nossa vontade historicamente determinada segundo a situação dada, é que também podemos saber que ampliação queremos, no futuro, do nosso saber técnico e em que direcção.»
Jürgen Habermass, Ciência e Técnica como Ideologia
É este exercício que vos propomos hoje, aplicados às realidades e às possibilidades locais e regionais.
A sociedade exige:
- Que o potencial científico e técnico responda aos problemas do mundo apoiando-se cooperativamente nos nós (também regionais) da rede de conhecimento, duma forma eticamente irrepreensível.
- Aproveitar-se dos resultados para uma melhoria das condições e alargamento do campo de possibilidades de vida (aumento do emprego qualificado, do acesso à cultura, …).
- A disponibilidade da comunidade técnico-científica para o diálogo político e a contribuição para uma acrescida participação cidadã na definição do modo de vida.
- O aproveitamento eficiente dos recursos disponibilizados.
A comunidade científica e técnica exige:
- A disponibilização de recursos (financeiros, logísticos, …) suficientes e oportunos.
- Um diálogo privilegiado com os decisores políticos.
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